Bate Papo com Haroldo Ribeiro

É um Bate Papo com Foco em TPM – Manutenção Produtiva Total, onde especialistas são convidados à expor suas opiniões, agregar conhecimento e contribuir com suas experiências através de perguntas e reflexões elaboradas por Túlio Martins.

Hoje convidamos Haroldo Ribeiro para um bate papo descontraído para falarmos sobre suas experiências com o TPM. Haroldo é Engenheiro mecânico e Administrador de Empresas, com especialização em Manutenção Mecânica. Desde 1995 dou consultoria em 5S e TPM para empresas da América Latina. Engenheiro e Auditor da Qualidade Certificado pela American Society for Quality – Estados Unidos, desde 1991. Criador da “Certificação 5S”, utilizada em vários países para validação do nível de excelência em 5S, desde 1996.

Criador dos mais completos portais, aplicativos e produtos digitais sobre 5S e TPM do mundo. Autor de mais de 35 livros sobre 5S e TPM Tem artigos publicados no Japão e em várias revistas brasileiras, além de consultorias realizadas na Europa e países latino-americanos desde 1995. Proferiu palestras e treinamentos de 5S e TPM para mais de 60 mil pessoas, desde 1990.

Contatos / Redes Sociais

https://www.linkedin.com/in/haroldo-ribeiro/
pdca@terra.com.br

Cópia de BANNER TPM MASTER - MANUTENÇÃO PRODUTIVA (2)

Haroldo,Como foi seu processo de escolha pela profissão e área de atuação? TPM foi sua primeira opção?

O meu estágio de engenharia mecânica já foi no setor de Manutenção de uma empresa do Grupo Santista. Entre 1984 e 1985 fui engenheiro de projetos e de manutenção de uma unidade do Grupo Klabin. Entre 1987 e 1990 fui engenheiro de manutenção da COPENE, atualmente uma das unidades da Braskem. E finalmente, entre 1990 e 1995 fui engenheiro e gerente da CEMAN, a maior empresa de Manutenção Industrial da América Latina, na época. Com a experiência que tive com o TPM nesta empresa, decidi ser consultor de 5S e TPM em 1995.

Da indústria de antes e os modelos atuais o que mais mudou que você pôde acompanhar com a sua experiência? E qual a visão de mudança que você tinha de como seria hoje e como está? Por exemplo tem conceitos atuais de indústria 4.0 hoje, que naquela época já se pensava nisso?

Depende do que você se refere a “naquela época”. Poucos profissionais imaginavam antes de 1990 o que seria a internet. Mesmo quando se tornou popularizada, também não se imaginava a dimensão que iria ganhar, culminando na tecnologia 5G. A indústria 4.0 será totalmente dependente desta tecnologia. Esta associação vai permitir o monitoramento computadorizado inteligente de equipamentos vitais em tempo real, bem como diagnósticos precisos e rápidos sem a intervenção humana. E isto vai exigir um “salto” na atualização dos profissionais de manutenção, que conviverão com os dois mundos: o antes e o depois da indústria 4.o associada à tecnologia 5G.

Por mais hoje que falamos de novos conceitos como TPM, Lean, metodologia ágeis, 5’S sabemos que estes conceitos sempre existiram desde o fordismo, taylorismo e são conceitos mais aperfeiçoados do que realmente novos. Sobre estes conceitos e práticas o que pode nos contar?

Dificilmente há algo novo que não seja um aperfeiçoamento do antigo, e isto não lhe tira o mérito. O Fordismo foi uma aplicação em alta escala do taylorismo. O Sistema Toyota de Produção, foi a transformação do Fordismo em células de produção, associadas à produção puxada, tendo como espinha dorsal o pensamento “Lean”, ou seja, livre de perdas.

O TPM criado na década de 60 foi uma fusão de técnicas já conhecidas no mundo ocidental, como a manutenção preventiva, a prevenção da manutenção, o sistema de produção puxado (Just-in-time) e a engenharia de confiabilidade. O “toque” genuíno japonês foi a introdução da Manutenção Autônoma nesta metodologia. O 6-Sigma é uma evolução do CEP. O 5S é uma evolução do “housekeeping”. O importante é que há sempre um aperfeiçoamento sobre aquilo que serve de inspiração.

As novas tecnologias e recursos atuais contribuíram para evolução da gestão do chão de fábrica? Haroldo tem algum exemplo prático que pode nos contar?

A Gestão à Vista é um bom exemplo disto. Tradicionalmente os dados dos quadros de GV são atualizados de maneira manual, exigindo profissionais às vezes dedicados para alimentá-los. Atualmente já existem monitores e aplicativos disponibilizados para o piso de fábrica com informações em tempo real geradas por dispositivos acoplados a pontos-chaves dos equipamentos. A qualidade e a velocidade da informação podem fazer uma grande diferença nas tomadas de decisões que cada vez devem estar desdobradas para os diversos níveis de hierarquia.

E os profissionais atuais tem mais /melhores oportunidades com os novos recursos? Ou têm mais concorrência?

No Brasil temos uma grande dificuldade com a qualificação profissional, cuja deficiência já nasce com a fraca formação acadêmica. Além do mais, a postura dos profissionais para o seu autodesenvolvimento, e o pouco investimento neste sentido na grande maioria das empresas, apontam para uma boa defasagem que temos e teremos em relação aos países que já têm uma base educacional e profissionalizante mais avançadas. Estimo que haverá um entrave na utilização plena da tecnologia disponível pela deficiência qualitativa de nossos profissionais.

A partir deste novo cenário que estamos vivendo, quais serão as ferramentas da Manutenção que passarão a ser procuradas com mais ênfase?

A Engenharia da Confiabilidade é e continuará sendo o “coração” da Manutenção, claro que associada aos processos operacionais (que dependem de ativos). Mesmo com programações computadorizadas e sistemas de monitoramento avançados, a base continua sendo a “confiabilidade”. A recomendação que sempre dou aos profissionais da Manutenção é que se aperfeiçoem em Gestão, em Pessoas e em Confiabilidade.

Por que o pensamento Manutenção Lean é importante para empresas neste novo cenário?

Se você analisar o real tempo de utilização do homem de manutenção em suas atividades, quer seja de planejamento, quer seja de execução, a maioria não chega a 60%. Isto sem se falar na eficiência da atividade. Logo há um grande “gap” para ser trabalhado na função manutenção, visando a eliminação de perdas, tais como: transporte e deslocamentos, acesso à ferramentas, materiais de reposição e insumos, liberação do equipamento pela operação, integração entre especialidades diferentes envolvidas em um determinado serviço, mudanças de prioridades, espera com a programação, etc.

Estas perdas seguramente geram custos, aumentam o back-log e comprometem a disponibilidade do equipamento, gerando lucro cessante.

Descreva um problema interessante e como você o solucionou.

É normal que os profissionais esperem ser atendidos na ferramentaria ou almoxarifado. Na empresa que trabalhei foi implementado o sistema self-service. Ou seja, o mantenedor entra no almoxarifado ou ferramentaria, acessa ao que é necessário e na saída dá baixa, como se fosse um supermercado. Outro exemplo é capacitar profissionais para serem polivalentes para atividades simples relacionadas ao seu trabalho principal. Por exemplo, um mecânico não precisar de um eletricista para desenergizar o motor quando for desacoplar da bomba. Algumas atividades de complementar também pode ser feita pelo mecânico ou eletricista. Tudo isto, claro, com treinamento e levando em conta os aspectos de segurança.

Haroldo, com suas palavras, descreva o que é TPM, Manutenção de Classe Mundial e quais são os princípios.

O TPM é atualmente a melhor metodologia para maximizar a eficiência de processos que dependem de equipamentos. Consiste de pilares técnicos e complementares, cujo resultado final é a perda zero no processo, a quebra zero do equipamento, o defeito zero do produto, o acidente zero e a poluição zero. Lembrando que TPM não é um sistema de Manutenção.

É uma metodologia mais completa que inclui em um de seis pilares, a Função Manutenção. Isto significa que com o TPM bem implantado o equipamento não quebra, e isto depende também de uma Manutenção Classe Mundial. Mas o inverso não obrigatoriamente é verdadeiro, ou seja, uma Manutenção Classe Mundial não garante os resultados de alto nível propostos pelo TPM. No meu livro “A Bíblia do TPM” eu apresento a metodologia completa que leva ao sucesso do TPM.

Haroldo, Gostaria que deixasse uma mensagem para os profissionais do mundo da Manutenção de Classe Mundial

Primeiro eu gostaria de felicitar a todos aqueles que vivem a Manutenção. Não conseguiria aqui relatar todas as virtudes destes incansáveis destes profissionais. Como maior recomendação é que procurem se atualizar nas técnicas de manutenção por meio de cursos profissionalizantes, literaturas, fabricantes de equipamentos e sobressalentes. Não esperem que a empresa onde vocês trabalham tome e iniciativa de cuidar de sua qualificação.

Sejam proativos para o seu autodesenvolvimento. Atualmente existem várias fontes de aprendizagem acessíveis em termos de custos e de tecnologia. Portanto, não se acomodem com o conhecimento e a habilidade que possuem, porque nada impede que fiquem ultrapassadas em um período de tempo bem abaixo do que o esperado. Gestão, Engenharia de Confiabilidade e TPM são temas já bastante conhecidos, e, portanto, básicos para engenheiros e quem ocupa papel de liderança. Fiquem atentos para tudo o que será propiciado e exigido pela indústria 4.0 associada à tecnologia 5G.

Haroldo Ribeiro

6 comentários em “Bate Papo com Haroldo Ribeiro”

  1. Excelente os pontos abordados e a objetividade nas repostas dadas por Haroldo, Túlio parabéns pela iniciativa.

Os comentários estão encerrado.